“A bondade deve ser defendida pelos bons, mas como é que isso se faz? Não é raro que os meios de comunicação social alimentem o pior que a sociedade manifesta. E a escola, que foi o lugar por excelência da aprendizagem, falhou rotundamente. No século XIX dizia-se que abrir uma escola era fechar uma prisão. Mas cada vez são necessárias mais prisões e as escolas funcionam pior. E há a crise da família, que na realidade deixou de ter o papel que tinha. A questão está em saber o que pusemos no lugar dela.”
“Esta crise está a fazer que se desmoronem muitos princípios liberais ou neoliberais: parece que afinal o mercado não se regula sozinho, que pode colapsar, e então, oh, há que chamar o Estado. Está claro: privatizam-se os lucros, as perdas assumimo-las todos.”
“As causas são conhecidas, as consequências não o são tanto, mas são sofridas por milhões e milhões de pessoas. Portanto, a questão está sobre a mesa com uma urgência que todos nós sentimos: é preciso pensar, propor, actuar… Muita coisa se resolveu, no passado, com a participação dos cidadãos. Ou se ajudou a resolver.”
“Acontece que o Partido Comunista Português, e não é por ser o meu partido, no âmbito parlamentar tem trabalhado muito, faz propostas, apresenta sugestões e ideias, e isso não passa na comunicação social. Há um filtro, tudo quanto vem daquele lado é ignorado. Parece que os jornalistas, de antemão, sabem que se uma notícia não vai agradar ao director, evitam-na.”
“Nós vivemos num tempo que se caracteriza pela irracionalidade dos comportamentos gerais, e pôr aqui um pouco de senso comum, no sentido de que, acima de tudo, o que há que proteger é a vida, e que a prioridade absoluta é o ser humano, é quase impossível.”
“A partir do momento em que vemos o próximo como inimigo, a guerra está declarada. A intolerância não é uma tendência, é uma brutal realidade.”
“Chegámos à conclusão de que a riqueza se alimenta da pobreza, mas de pobres vivos.”
“Porque é que um homem mata a mulher com quem está casado ou com quem vive? A razão principal é que a relação falhou. O que é que impede as pessoas de se separarem?”
“E, como é que se educam os homens? O ser humano é um animal doente porque não é capaz de reconhecer, ou de inventar, o seu lugar na Natureza e na sociedade.”
“A norma vigente manda, mesmo virando as costas à realidade, fazer de conta que se continua a viver nesse «melhor dos mundos» que é a instituição familiar.”
“Há um desajuste entre a velocidade de mudança da sociedade no seu todo e a capacidade de mudança de cada pessoa.”
“Vivemos numa época de esquizofrenia, com um pé no hoje, e até, nalguns casos, vivemos com um pé no amanhã, e o outro pé ficou atrás.”
“Falta-nos reflexão, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que, sem ideias, não vamos a parte nenhuma.”
“Não me senti preocupado pelo facto de aquela doença poder vir a resultar na minha morte. Pensava nela no quadro da própria doença e, portanto, algo que podia ser inevitável e, contra o inevitável não podia fazer nada. As únicas pessoas que podiam fazer alguma coisa por mim eram, evidentemente, o pessoal do hospital, os médicos, tu mesma.”
“Sabia que eles estavam lutando para ajudar este velho, e eu podia pensar, e pensei, que eles estariam fazer tudo ao seu alcance para não deixar que fosse lá para o outro lado, para o outro bairro. E havias tu. E havias tu. Porque, no fundo, tu não és médica, não receitaste nada, que me lembre.”
“O que tinha era um desejo não muito consciente, a vontade, era a vontade, de terminar um trabalho começado, como se dentro de mim tudo se revoltasse contra a ideia de deixá-lo inacabado.”
“… envolto nessa enorme serenidade que habita dentro de mim. Enorme, enorme, enorme… No fundo, é como se eu já soubesse tudo. E não é certo, claro que não. Mas há uma forma de sabedoria que, sem querer, evidentemente, creio ter alcançado e que se mantém tal qual, desde que me tornei consciente disso, até hoje, e que espero que se mantenha, porque me dá uma grande força. Não é a energia recuperada, não são os 16 quilos que ganhei sobre o que pesava quando saí do hospital, é outra coisa, como se pudesse dizer a mim mesmo que estou no lugar certo, fazendo o que devia. Bom, mas enfim, a palavra-chave é esta: serenidade. Serenidade.”
“Sabemos que a morte é uma chatice, claro, e no caso dos escritores é uma dupla chatice. O escritor morre e a sua obra, geralmente, entra numa espécie de nuvem negra. Não é que não continue a ter leitores, mas já não é a mesma coisa.”
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Entrevista de Pilar Del Río a José Saramago, in Revista Única Outubro.11.2008
Entrevista de Pilar Del Río a José Saramago, in Revista Única Outubro.11.2008
5 comments:
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