construí uma mensagem na voz de um idoso, com a memória de muitos.

Espero por ti.
Lembro-me do que não quero, e dói!
Há tanto tempo que a memória se atrapalha e me confunde...
Sinto falta das páginas que rasguei.
Momentos que a vida me proibiu.
Não me lembro de nada,
a verdade é que não me lembro de quase nada.
Desta fragrância à solta, no ar...
Onde estou? Tardei em perceber.
Não que eu não reconhecesse as imagens, os sítios, os odores, as cores...
Mas tardava a encaixa-los dentro de mim.
O que terá ocorrido e que dê nome a esta ausência?
A este nada tão acentuado?
Uma parte de mim, não acredita...
O que terei feito, e que me recuse agora a ver?
E a sentir, e a reaprender?
Fraquejei em momentos só nossos. Só pode!
Agora me lembro, já não te trago ao colo.
Mas gostei de ouvir-te crescer. De me chamares e, de te esperar.
Ouvia-te sempre, ainda que não desses por mim!
Hoje sei-te sempre em qualquer lado.
Mas sei-te. E isso baste-me!
Fazes parte da minha vida,
iluminas o meu caminho, sem o saberes.
E dói! É isso que dói, percebes?
Nunca mais te partilhei...
Amo-te!
Ainda experimento os nossos andamentos ao longo dos anos, e
sinto a paz da tua companhia, e o encanto da última vez!
Só. Cada passo é mais custoso.
Cada dia mais sofrido, e o choro, é a minha companhia!
É difícil saberes o que quero, quando estou no escuro e no silêncio do fim,
especialmente porque não há quem me ajude.
Filho, espero por ti.