Friday, January 25, 2008

valter na Quinta de Leitura




valter Hugo mãe foi o poeta convidado, ontem, pelas 22h00, no Café-Tetro do TCA (Teatro do Campo Alegre), no Porto. “Facínoras” foi o título, eleito por valter, para esta sessão – esgotadíssima, aliás –, onde fomos mimados com a sua poesia. O conteúdo, de alguns dos textos, do seu mais recente trabalho, bruno, – livro de poesia, editado apenas em Espanha –, ganhou vida nas vozes de Isaque Ferreira, Pedro Lamares e Adolfo Luxúria Canibal.
Mas, a riqueza do momento tomou particular sentido quando valter assumiu, para nosso regozijo, o comando de alguns textos e, num risco calculado, abraçou-os com audácia e deu-lhes som e melodia, num registo partilhado pela música alternativa acompanhado por António Rafael (teclas) e Miguel Pedro (percussão) – músicos da banda Mão Morta –, e ainda por Henrique Fernandes (contrabaixo).


facínoras

eu e o bruno somos dois
facínoras e queremos ser animais selvagens e
ferrar sem piedade, eu e o bruno
só somos diferentes ligeiramente,
por isso julgamos o mesmo do
mundo e estamos dispostos a
irritar as regras antigas do desafio
biológico. temos corpos nano-aperfeiçoados,
delicados para as vistas, artilhados para a,
demanda das austeras necessidades
da contemporalidade. e somos do
mais contemporâneo que há. sabemos
muito sobre o essencial de cada coisa, que
é sempre o mesmo, e ganhamos facilmente
por atentarmos apenas no essencial. queremos
ser animais exactos, deslumbrantes, cor-de-rosa ou
laranja, talvez hipopótamos com asas na
cabeça ou gnus sorrindo, mas sólidos, pesados
sobre a terra como sobre as ideias mais extensas,
a persegui-las obstinadamente. para dois
facínoras como nós, todas as coisas parecem
largamente aquém da imaginação. andamos
preocupados com o aquecimento global do
planeta e sabemos o que dizem sobre
a morte de três quartos da população
mundial nos próximos cinquenta anos, mas
isso pouco importa, parecemos sozinhos de
todo o modo, solteiros, sem ninguém, mas isso
pouco importa, e se pudéssemos, correríamos
à dentada três quartos da população mundial
para os calabouços do inferno, sem pretexto
climatérico, nem pudor perante as criancinhas,
as mulheres ou os velhinhos, era corrê-los a
todos até que restassem apenas as
pessoas seduzidas com subir às arvores para
incentivarem os frutos a nascerem e as que
colocam as mãos no chão sem
medo de criarem raízes. eu e o bruno
olhamos para as paisagens como dois
antipáticos implacáveis. criticamos cada
coisa até se cansarem da nossa conversa e
rogamos pragas a quem exasperado nos
abandona. dizemos, vão-se embora, enfiem-se
debaixo dos lençóis e criem penas de avestruz na
corola do buraco do cu. sentamo-nos
ao pé das águas dos rios escuros e
ferramos a quem nos pergunta se vamos
pescar. arrancamos braços inteiros, por vezes,
à força dos dentes, o bruno mais, que tem uma
dentição branca superiormente saudável e pode
desferir golpes de maior violência e até com
encantadora precisão.

a mariana costa desenha os animais que
queremos ser porque entendeu tudo
sobre o recôndito segredo do universo.
nos seus olhos incrivelmente azuis
reflecte melhor do que o céu as
proféticas aventuras do humano. eu
vou aproximar o meu corpo gravemente ao
dela e sei que do choque espiritual me
nascerá o exército de filhos com que
infestaremos os espaços de uma beleza
pura, desorganizada por ser genuína, intensa,
capaz de explicar aos ímpios a necessidade de
seguirem para o inferno e permitirem a sobrevivência
de todos os peixes. e eles seguirão por seu
próprio pé e iniciativa e deixarão caminho
para que subsistam apenas corações férteis e
desavergonhados no exercício do amor. eu e
o bruno corremos atrás da mariana como
cães obedientes e vamos latir ou uivar em cada
pôr-do-sol para receber os dentes nos sonhos de
todas as noites. é assim o amor,
uma entrega sem hesitação perante o acentuado
do abismo

e salvaremos o mundo com estas convicções nada
pacíficas. porque daqui a pouco tempo perderemos
dois terços da população só pela inércia e
antes disso é preciso preparar todos os
animais para a travessia até um tempo melhor

a boca dos insectos já nos beija, rapidamente
inteligente e respiradora, e é assim o
amor, sem limites perante a vida




valter Hugo mãe, in bruno

Monday, January 14, 2008

Fica boa depressa


Procuro-te.
Com o olhar atento, procuro as palavras certas, sons amenos e vigilantes - como se querem dos amigos.
Encontro-te sempre.
Tal como encontro, as lembranças, as cores e o calor que nos dão um sentido.
A graça e o sabor da tua amizade está atracado, lá. Sabes onde?
No abrigo de quem amamos.

FICA BOA DEPRESSA!

Você sabia?


A Junta de Freguesia de Vale do Salgueiro, no concelho de Mirandela, autorizou as crianças com mais de cinco anos a fumar nos dias 5 e 6 de Janeiro. Aqui, as crianças são estimuladas a fumar em nome da tradição da Festa dos Reis.
De acordo com o Jornal Público (JP), uma criança de oito anos terá fumado vinte e três cigarros, nestes dois dias, em nome da tradição. Uma outra criança, desta vez de dez anos de idade, disse a mesma fonte, fumou dez cigarros, tendo confessado ter sentido algumas tonturas, quando experimentou fumar um cachimbo. Acontece que, apoiantes em Vale Salgueiro não faltam, citou o JP. Um avô confessou achar piada ver as crianças de cigarro na mão, por isso, terá oferecido um cigarro à sua neta com apenas oito anos de idade.
(Esta “lei” colide com as leis mais recentes sobre o consumo de tabaco.)

É caso para dizer: Ah leões!
Gente rija... esta!

Sunday, January 13, 2008

Quem guarda o guarda?


Imagem retirada do Jornal Expresso, 14 de Janeiro de 2008

A Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) possui dentro das suas instalações na Avenida Conde de Valbom, em Lisboa, extintores fora de prazo. Leu bem, FORA DE PRAZO! Quem o denuncia é o Jornal Expresso, no primeiro caderno de 14 de Janeiro de 2008. Os extintores, da ASAE, estão bem posicionados nas instalações, alguns, foram estrategicamente colocados nas entradas dos laboratórios, onde se manuseiam produtos perigosos. Muito bem! Mas, aqui o problema não é a sua localização. Aqui o problema é que estes extintores de pouco – ou nada – servem em caso de necessidade. E agora perguntam: quem controla a ASAE? Como proceder perante uma empresa que não cumpre as regras, mínimas, de segurança? E se essa empresa exigir, e muito bem, a outras esse cumprimento?
Não tenho ideia!


Friday, January 4, 2008

Dúvidas. E mais dúvidas.

Na descolagem para um novo ano, arquitecto algumas questões que, por um motivo ou por outro, gostava de ver resolvidas, a saber:
Casa Pia, haverá culpados?
Quem fica com a Esmeralda?
O tempo está a contar…
O Governo de Sócrates sofrerá alguma remodelação?
O BCP fechará portas?

Até onde nos leva este encerramento constante na saúde? Acabará a saúde pública?
Avançamos para a Ibéria ou não?
Alguns pequerruchos já nascem em Espanha, e as mães, ao que parece, agradecem!
Onde ficas Aeroporto de Lisboa?
Os impostos irão baixar? Vá lá…alguns pontinhos…poucos…nada. Nada?!
A insegurança social que sentimos diariamente em 2007 transitará toda para 2008? Ou abrandará?
Referendo ou não para o Tratado de Lisboa?
Até onde vão chegar os preços dos combustíveis?
Os protestos sociais irão multiplicar-se?
O desemprego irá baixar?
E a taxa de juro? Quem a segura?
O pão aumentará 30%. Será, isto, verdade?
O ordenado mínimo aumentará para € 500,00?
Como? Estão a fazer-me sinal, parece que aumenta para € 600,00. Não?! Aumenta. Sim o ordenado mínimo aumenta, esta é a boa notícia. € 500,00 ainda não será uma realidade, este ano!
Em 2007 despertámos para a consciência ambiental. Para quando a concretização de comportamentos mais ajustados, mais ecológicos, mais verdes, mais saudáveis?
O ano zero para espertarmos para a biodiversidade, será 2008?
As hipóteses não são muitas. Se não alinharmos esforços, todos juntos, de mãos unidas por um bem comum, o nosso destino passará pela pobreza, fome, epidemias, migrações, guerra… Seria muito injusto afirmar que nada tenha sido feito nesta matéria, mas o que se constata são manifestações pontuais, residuais, ténues, anémicas…
Estaremos devidamente informados sobre os alimentos geneticamente manipulados?
Saberemos optar? Ou melhor, poderemos escolher?
Postes de muito alta tensão, quem vencerá? A saúde - a sua preservação -, ou a questão económica?
Como quem diz: enterram-se ou não?
E na educação? Qual será a nova reforma para 2008? Reformulo a pergunta: quais serão as novas reformas para 2008?


Dúvidas. Dúvidas que deveriam ser só dúvidas. Mas, a atenção que as reveste é acanhada.
Fico com a incerteza.