Wednesday, October 31, 2007

Estudos mal acondicionados



Num momento em que a atenção se prende no ensino, um dos temas quentes é o ranking nacional das escolas. Na semana passada, foram amplamente divulgados os rankings e as análises efectuadas foram, mesmo, levadas até à exaustam. Todavia, algumas questões apresentaram-se transversais a todos os estudos publicados: as escolas privadas levam a dianteira, destas, as Católicas são as melhores situadas, e ainda, as escolas Opus Dei merecem um posicionamento de relevo. Por outro lado, os olhares pesam, necessariamente, para a melhor média alcançada nos exames nacionais, na 1ª fase, do ensino secundário: pouco mais de uma dúzia de escolas apresentam, como média, valores iguais ou superiores a 13, sendo 14,1 a média mais elevada alcançada numa única escola. Valores que pouco nos orgulham!
É também neste momento, que o novo Estauto do Aluno fervilha, e com a sua efectuação - tal como se apresenta -, profundas modificações se avizinham. Serão benéficas?
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Com o novo Estatuto, o aluno deixa de chumbar por faltas e dissipa-se a diferença entre faltas justificadas e injustificadas. Quer com isto dizer, que o aluno que adoecer, e faltar, terá a mesma leitura e será igualmente tratado, ao aluno que passeie descontraidamente, faltando à escola, unicamente por faltar! Na nova proposta, esta diferença, apenas, e só existe, a partir do momento em que o aluno ultrapasse o limite fixado para as faltas injustificadas (no 1º ciclo sempre e quando o aluno falte 3 semanas e, nos 2º e 3º ciclos quando, o aluno, ultrapasse em 3 vezes o número de horas semanais por disciplina), aqui entra a medida excepcional, a prova, proporcionando ao aluno a realização de um momento de avaliação de recuperação. Esta prova ou provas, serão realizadas por iniciativa da escola e o peso desta(s) , na avaliação final do aluno, será decidido por escola (em conselho de turma).
E se o aluno faltar a essa prova? (a falta pode ser dada porque sim!)
Poderá o aluno repetir a(s) prova(s), no mesmo ano lectivo? Quantas vezes?
E as faltas disciplinares e de material?
"Só haverá faltas e excesso grave de faltas!", "É uma nova filosofia de intervenção pedagógica e disciplinar", "a escola pública inclusiva não pode permitir que se impeça um aluno de voltar à escola por conta, apenas, de um determinado número de faltas", defende a ala socialista.
in Jornal Expresso, 27 de Outubro de 2007, Primeiro Caderno
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Para enriquecer mais a informação que o Ministério da Educação possui, 16 das 20 escolas analisadas pela DECO apresentam dióxido de carbono e humidade em excesso, bem como, falta de ventilação. O ministério da Educação, nega!
(...) "Após a publicação deste estudo, o Ministério da Educação acusou a DECO de usar as escolas públicas para se autopromover. As avaliações foram consideradas erradas e o trabalho com falta de rigor. A ministra da Educação não nos reconheceu, também, capacidade técnica para o estudo. Após esta acusação, a DECO convidou o Ministério da Educação a publicar resultados que comprovem o bom conforto térmico e qualidade do ar nas escolas portuguesas. Mais: assume-se como uma entidade não fiscalizadora que apenas pretende chamar a atenção das autoridades e das escolas sobre esta matéria." (...)
in Revista PROTESTE, Novembro de 2007
Assim eles quisessem!
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Lembro-me de uma frase proferida pelo Presidente da República, Cavaco Silva, no dia 5 deste mês "O modo como a escola funciona no Portugal de hoje é um indicador do modo como o Portugal de amanhã funcionará".
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Valeria a pena casar todos os dados disponíveis e pensar diferente a orgânica das nossas escolas.
Assim eles queiram!





Friday, October 26, 2007

Prémio José Saramago

valter hugo mãe


valter hugo mãe vence Prémio José Saramago com o livro "O remorso de baltazar serapião". O romance publicado pela QUIDNOVI Literatura Portuguesa, em Abril de 2006, acaba de ser agraciado com o prestigiado Prémio José Saramago.


Numa Idade Média brutal e miserável, Baltazar Serapião casa com a mulher dos seus sonhos e - tal como o pai fizera antes com a mãe e com a vaca, fêmeas irmanadas em condição e estatuto familiar - leva muito a sério a administração da sua educação. Mas o senhor feudal, pondo os olhos na jovem esposa, não desiste de exercer sobre ela os seus direitos... Entregue aos desmandos do poder e do destino, Baltazar será então forçado a seguir por caminhos que o levarão ao encontro da bruxaria, da possessão e, finalmente, do remorso.
Com um notável trabalho de linguagem que recria poeticamente a língua arcaica e rude do povo, o remorso de baltazar serapião, de valter hugo mãe - autor, entre outros, de o nosso reino, seleccionado pelo Diário de Notícias como um dos melhores romances portugueses de 2004 -, é uma tenebrosa metáfora da violência doméstica e do poder sinistro do amor.
(texto na contracapa do livro)

Parabéns valter!
Beijo-te e abraço-te com carinho.

Tuesday, October 23, 2007

Ternura. Pratique-a!


"50% dos idosos admitem a legalização da eutanásia. O estudo pretendia apurar a opinião da população idosa portuguesa, com mais de 65 anos e sem doença terminal, sobre a prática do suicídio assistido. Foram abordados 815 idosos, institucionalizados em lares ou residências para a terceira idade em todo o país, incluindo Açores e Madeira. A maioria admite pensar frequentemente na morte".
Inquérito organizado pelo Serviço de Biómédica da Faculdade de Medicina do Porto.
in Jornal de Notícias de 14 de Outubro de 2007
Deste trecho, ressalvo o seguinte: metade dos idosos inquiridos, estão institucionalizados, não apresentam doença terminal, mas convivem com ideia da morte.
O tema a que me debruço, hoje, não é a eutanásia. Estar a favor ou contra?! O que seria, por si só, um tema controverso, necessário, importante e urgente debater, e, referenciar. Mas não, não é isso que trago nas palavras!
São pessoas saudáveis - no sentido de não sofrerem de doenças terminais e altamente incapacitantes -, que por um motivo ou por outro, pensam em findar o seu percurso de vida. E porquê?
Será normal, que metade da população suspire pela morte? Então, porque aceitamos este molde de sentir, na população com mais de 65 anos?
Numa época civilizacional em que cresce, a cada dia, a esperança média de vida, aumenta a longevidade, o progresso tecnológico difundiu o tempo, e a medicina já vai respondendo no sentido de minimizar os transtornos, e em alguns casos, até retardar o aparecimento de certas maleitas, típicas desta idade. Numa era em que crescem as actividades para estes jovens, desde: universidades; lares/residências/hotéis com técnicos especializados em gerontologia, médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, animadores sociais, actividades diversas como a leitura, jogos, jardinagem, culinária, pintura, bordado, ginásio, dança, cabeleireiro, esteticista, serviços religiosos, passeios sobre diferentes temáticas; centros de dia; apoios domiciliários, e, até turismo. Num momento em que se fala na quarta idade... e a terceira anda tão desanimada!
Este tempo deixou de nos prender a lugares e costumes de vida, hoje podemos aderir a diferentes hábitos de vida, e viver saberes inteiramente novos. Perante, este desmedido mimo, como nunca por aqui se viu, estes jovens sábios - é assim, que me confere evocá-los -, não se entusiasmam com absolutamente nada! Que injustos! Imerecidos até! E nós, filhos, tão inquietados!
Mas será que nos ocupamos de redesenhar actividades, espaços "ideais", num frenesi infernal, onde os nossos jovens sábios sejam, assim, arrumadinhos, e, nos esquecemos do essencial?
Abraça-los no seio da família, mas com o calor e a ternura, que os seus eruditos anos nos merecem!
A ternura é basilar - em qualquer momento do nosso longo processo de amadurecimento -, porque somos, seres ditos, sensíveis. Então, pergunto-me, porque temos, ou estamos, com uma expressiva falta de jeito e esta declarada incapacidade de a compartilhar, de a sentir, e de a dar?
Atrevo-me.
Hoje, já sorriu verdadeiramente para um "jovem"?
A ternura... é praticá-la!

Friday, October 12, 2007

Talvez o gato dê sorte!

É uma moda. É um espelho das cidades, ditas, desenvolvidas. É um sinal dos tempos modernos.
Quando se constrói uma estrada, é previsível, uma rotunda, pelo menos uma, irá ser edificada, para bem da circulação rodoviária, para um Portugal mais rolante. O problema parece ser mesmo esse, como rolar lá e sair inteiro?
Bem sei, as rotundas apresentam vantagens, é verdade: quebram a velocidade dos veículos, sem recorrer às lombas, essas tão odiosas bandas. Também não há necessidade de optar por sinais luminosos controladores da velocidade. De uma forma geral, as rotundas facilitam o fluxo de trânsito, também, quando comparadas com os cruzamentos e/ou entroncamentos. Por outro lado, concorrem para a diminuição da sinistralidade. Mas é aqui, que "a porca torce o rabo", se não vejamos, quem anda na estrada, depara-se com acidentes nas rotundas, diariamente, sem gravidade, é verdade, para bem dos intervenientes. Mas que os há, há! Digamos que é um prato do dia.
Então o que se passará? Se as rotundas apresentam muitas vantagens versos as outras alternativas, porque conservamos a imagem: uma rotunda, um acidente?

Será que o problema passa por não sabermos, nós os encartados, como circular nas rotundas?

Questionei-me: quais são as regras de trânsito a aplicar numa rotunda? Resolvi estender esta mesma questão a dois ou três amigos, também eles encartados, o resultado foi o pior possível!
A dúvida estava instalada!
Mesmo assim, pensei, será que seremos só nós, os únicos condutores, com hesitações quando nos aproximamos de uma rotunda? A resposta é obvia. Não! Basta estarmos atentos e constatamos os diferentes comportamentos dos condutores. Há os que circulam sempre pela direita (faixa de fora), independentemente da saída que vão tomar. Há os que circulam pelo interior, ou seja, pela esquerda e atiram - sim a expressão é mesmo essa, atirar - com o carro para as outras faixas de rodagem, trespassando-as, no momento em que pretendem sair da rotunda. Há também aqueles que piscam para a esquerda ou para a direita dizendo que vão sair, e não saem nada. E os que não "piscam nada", e saem da rotunda sem darem por nada, nem por quem lá anda. Estes têm a capacidade, singurar, de se sentirem únicos naquela rotunda. Digamos que a compraram, para aquele dia!
Agora digo: para além da dúvida, o próprio caos está instalado!
Com esta contenda no horizonte, arregacei as mangas e tentei esclarecer-me, mas desta vez, junto da razão - ou talvez não! Para tal, consultei a Direcção Geral de Viação (DGV), o Ministério da Administração Interna, um manual de código (aproveitando que o meu filho, mais novo, iniciou o estudo para se habilitar a ser portador de carta de condução), dirigi-me à Policia de Segurança Pública local (PSP) e a uma distinta escola de condução do nosso concelho. Posso dizer-vos, e só, porque estou a arejar, doutra forma teria pudor, que também aqui o esclarecimento não foi iniversal!
Depois disto, confesso que me sinto mais normal, no sentido de regular, comum. Afinal a circulação em rotundas não foi feita para qualquer encartado, é também necessário possuir um dom especial! Como que receber uma bênção divina! (ou lá está, ter ajuda do gato preto!)
Mas, adiante.
Como sair incólume de uma rotunda?
Apesar do Código da Estrada (CE) ter sofrido alterações, a DGV emitiu um comunicado, por considerar que o CE ainda apresenta lacunas, ou é mesmo omisso, no que diz respeito à circulação nas rotundas. A nota da DGV refere "uma rotunda não é mais do que uma praça composta por um cruzamento ou entroncamento, onde o trânsito se processa em sentido giratório, contrário ao dos ponteiros do relógio", "há que obrigar os condutores a circular sempre nas faixas interiores, sendo apenas permitida a passagem para a zona exterior no troço imediatamente antes da saída desejada", " evitar que as pessoas percorram toda a rotunda na faixa de fora, bloqueando a saída a outros veículos e gerando acidentes".
Ora, um olhar atento no CE, Decreto -Lei nº 44/2005, de 23 de Fevereiro, constantes dos artºs 13.º, nºs 1 e 2; 14.º, nºs 1, 2 e 3; 15.º, nº 1; 16.º, nºs 1 e 2; 21.º, nºs 1 e 2; 25.º, nº 1, c) e 43.º, nº1. Com rigor, a verdade parece ser um pouco diferente. De forma muito resumida, apresento, o que o CE nos diz:
- O trânsito deve fazer-se pelo lado direito da faixa de rodagem e o mais próximo das bermas ou passeios.
- Quando necessário pode utilizar o lado esquerdo da faixa de rodagem para ultrapassar ou mudar de direcção.
- Sempre que existam, no mesmo sentido, duas ou mais faixas de trânsito, mesmo em rotundas (dentro e fora das localidades) deve circular pela via mais à direita possível, podendo, utilizar o lado esquerdo da faixa de rodagem para ultrapassar ou mudar de direcção.
- Dentro das localidades, os condutores devem utilizar a via de trânsito mais conveniente ao seu distino, só lhes sendo permitida a mudança para outra, depois de tomadas as devidas precauções, a fim de mudar de direcção, aproximar-se com a necessária antecedência e quando possível, do limite direito da faixa de rodagem e fectuar a manobra no trajecto mais curto.
- Nos cruzamentos, entroncamentos e rotundas o trânsito deve efectuar-se por forma a dar a esquerda à parte central dos mesmos.
- Quando o condutor pretender mudar de direcção ou de via de trânsito, deve assinalar com a máxima antecedência possível. E, este sinal só deve ser apagado quando a manobra estiver concluída.
- O condutor deve moderar a velocidade, de entre várias situações, sempre que se aproxima de rotundas. Bem como, deverá ceder a passagem quando entra numa rotunda.
Assim, e antes de me ir embora, deixo aqui um repto: o que terá valor legal, em caso de acidente? A "nota explicativa" da DGV, ou o CE?
Este é um assunto que deveria merecer um olhar mais diligente das autoridades, tão empenhadas em diminuir o indice de sinistralidade. É que este faz-de-conta, só é favorável aos bate-chapas!
(Venha o gato, mas o preto!)