Friday, September 14, 2007

O meu olhar é nítido como um girassol


O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo comigo a cada momento
Para a eterna novidade do mundo...
Creio no mundo como um malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo.
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar...
Alberto Caeiro

5 comments:

Anonymous said...

...Clytia, apaixonou-se pelo deus do Sol Apolo, observava-o cruzar o céu...nove dias depois, foi transformada em um girassol...

Anonymous said...

Lindo prosopoema e provocar meditação.

José Leite said...

"A única inocência é não pensar!"

Isto é típico de uma certa forma de "alienação" muito em voga no antigo regime. Bem sei que nesta acepção é diferente, mas há que pensar muito quando se pede para não pensar!

Cultivar a sensibilidade sim, mas não de forma alienatória ou propensa a ausência de pensar.

Anonymous said...

Tenho uma grande paixão pelas palavras, principalmente pela sua razão, ou, já agora, pelo seu "sentido". É por isso que às vezes saiem coisas estranhas, como: será que o amor dura para além do tempo e do espaço?

Bj e até lá,

Anonymous said...

Hello trata-se a 2ª vez que encontrei a tua página e adorei muito!Espectacular Trabalho!
Cumps