Monday, March 28, 2011

Faz-de-conta

Quando a viu, secou-lhe a garganta. Senti. Senti como lhe custava chegar aquele momento. E aquele calhava ser um momento particularmente difícil. Ela chegou e beijo-a na face. Foi um beijo rápido, tal como a visita. Tinha uns compromissos, afiançou-nos por fim. Ali ficaram. Retirei-me e dei espaço ao silêncio que entrou por fim. Foi um curto diálogo em silêncio. Estranho, não? Mas foi assim mesmo. As palavras a falarem e os corações a pensarem… E o tempo a esgotar-se. A mãe, apesar de gostar muito da sua companhia, não a quer por visita, e, por isso mesmo, envelhece muito nestes dias. Depois põe os óculos escuros só para esconder os olhos parados.

- Sabe menina, gosto muito da minha filha, sabia? Diz-me, por fim e quase em segredo.

Eu sorri devagarinho e abanei a cabeça, foi a cabeça que disse que sim, porque a voz não saiu.


4 comments:

Anonymous said...

procuro nela o olhar brilhante, a confiança que ele me dava quando olhava para mim...mas agora tem os olhos baços...sem vida...escondidos na alma. As horas no hospital parecem seculos...a nossa conversa esgota-se nos primeiros minutos...
Mae...fico aqui...só aqui...aqui só... perto de ti tenho paz.

sentidos de coimbra said...

Caríssimo anónimo,
Obrigada pelo comentário e volte sempre.

Abraço
cristina torres

Anonymous said...

Porquê que a vida é tão dura?
Porquê?
Gosto do que encontrei e do que li. Voltarei sempre.
Com emoção,

António

sentidos de coimbra said...

António,

À sua pergunta, parei para um pouco. A vida somos nós. Todos somos responsáveis por torná-la mais dura e amarga.
A duvida será: Até quando?
Não sei, António.

Abraço
cristina