Saturday, December 8, 2007

Poema à MÃE


Rainha Santa Isabel muito devota à Virgem Maria sob o título da “sua Conceição”, por sua iniciativa manda celebrar todos os anos na Catedral, a 8 de Dezembro, a festa de Nossa Senhora da Conceição, esta festa de devoção estabelece-se em todo o Reino de Portugal. E, é desta forma, que chega até nós este dia, durante muito tempo festa comemorativa do “Dia da Mãe”, hoje – e por questões económicas –, simplesmente dia de Nossa Senhora da Conceição.

Por mim, hoje, dedico um miminho a todas mães.

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Poema à MÃE

No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe.

Tudo porque já não sou
o menino adormecido
no fundo dos teus olhos.

Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.

Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.

Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!

Olha – queres ouvir-me? –
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;
ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;

ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal…

Mas – tu sabes – a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber.

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.

Boa noite. Eu vou com as aves.

Eugénio de Andrade in “Os Amantes Sem Dinheiro”

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