Tuesday, November 23, 2010

Crise Social

Encontra entervista na integra a Isabel Jonet, presidente do Banco Alimentar, no Jornal Expresso de 20 de Novembro de 2010, aqui ficam algumas passagens...
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"O que se passa é tão penalizante e há situações tão socialmente injustas, criadas com o corte das prestações sociais, que neste momento existe o maior risco de implosão social em Portugal desde o 25 de Abril. Sinto, e as instituições que estão no terreno também, que há um desconforto sem esperança, um desconforto com raiva que pode minar a sociedade. Há uma tensão latente, muito perigosa. Se surgir uma força política a manipular os pobres, vai correr mal."
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"E também a certeza de que a maior parte das pessoas de 48 , 50 anos que caem hoje no desemprego nunca mais vão ter um emprego. É o desemprego sem esperança. Pessoas que ficam destruidas em termos pessoais porque têm de enfrentar uma falha que não é delas mas que parece ser. O estado de tristeza e depressão impede-as de recomeçar. E é ver os jovens acabados de sair das faculdades e que só arranjam empregos precários e subqualificados. Vinham para o mercado cheios de garra e perderam o élan inicial. Estamos a cortar-lhes a esperança. E o problema é não haver solução para toda esta mão de obra desocupada. Além de um desperdício, é um perigo."
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"O Banco Alimentar apoia instituições, 1830 a nível nacional. Mas há cada vez mais pessoas a pedir-nos ajuda diretamente, principalmente por telefone, mas também por e-mail. Já temos duas pessoas a trabalhar exclusivamente no encamenhamento dsetes casos."
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"Pois, mas tomámos a decisão de admitir mais instituições na rede de ajuda, porque nos apercebemos de que estavam a atingir os limites, humanos e físicos. Muitas instituições têm mais pedidos de ajuda, mas não podem, de repente, acolher mais cem pessoas no refeitório."
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"A maior parte das instituições está no limite. Não pode ajudar mais pessoas. Setúbal e o Grande Porto são as regiões mais afetadas."
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"Num bairro social que conheço bem vejo imensas mulheres que vivem do Rendimento de Inserção (RSI), mas a quem nem sequer é exigido que varram e limpem o seu próprio bairro. Há uma desresponsabilização total. Muitas pessoas perderam o gosto pelo trabalho ou desabituaram-se de trabalhar duro..."
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"Neste momento o drama é que as pessoas já nem sequer têm força para pegar na cana. Além de que a maior parte dos rios estão secos."
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"O Estado Social matou muita da iniciativa da sociedade civil porque as pessoas encostaram-se. Terão agora de aparecer novas soluções, sem depender do estado, contando com a energia das pessoas em torno de um mesmo ideal: recuperar Portugal. É absolutamente necessário haver uma salvação nacional. Os portugueses deixaram de acreditar, mas o país tem imenso potencial. Não podemos é estar impávidos à espera que alguém nos diga como ajudar. Cada um tem de ir à procura do que pode fazer pelo seu país. A partir da sua casa, da sua rua, do seu bairro."
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"Não tenho dúvidas que foi um fator indutor de pobreza (a respeito da introdução do euro). Um euro são 200 escudos, mas a maior das pessoas faz as contas como se fosse cem. Alterou-se o refencial das pessoas, mas não se alteraram proporcionalmente os rendimentos."
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"Apesar dos milhões que se têm gasto em estudos e projetos (para combater a pobreza), muito pouco se fez para conhecer as suas reais causas. É esse o objetivo do Observatório da Pobreza que lançamos amanhã."
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"Este ano estendemos a campanha ao Facebook. As pessoas que jogam Farmville, por exemplo, podem trocar os seus créditos por alimentos."

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