Friday, March 2, 2007

Mutilação. Faz-se porque sim!

Onde acaba o hábito e o costume, recuso-me nominar-lhe tradição, e começa a legislação?
O assunto não é recente em Portugal, a 4 de Agosto de 2002, o Jornal "O Público", alertou para a possibilidade de se realizar, com relativa regularidade, a prática de Mutilação Genital Feminina (MGF), sobre população de origem africana, a residir no nosso país.
Apenas 12 países africanos possuem legislação ou recomendam a proibição da MGF!
Todos os anos 2 milhões de meninas suportam a MGF e 130 mulheres já gemeram a MGF, em todo o mundo!
A MGF é vulgarmente conhecida por Circuncisão Feminina, mas nada tem em comum com a Circuncisão Masculina. A MGF é um termo associado a práticas incidentes sobre os orgãos genitais femininos, e que tem uma origem cultural e não medicinal. Como tal, deve ser designada de MGF.
A MGF é inaceitável e ilegal, modifica o corpo daquelas que muitas vezes são demasiado jovens e desacordadas para levarem a sua voz mais alto. A MGF elimina o prazer sexual da mulher, e a sua prática acarreta sérios riscos de saúde para a menina, podendo mesmo ser fatal. Impulsionador de problemas psicológicos em muitas das vítimas deste gesto. É muito dolorosa, por vezes de forma permanente! Viola o direito de toda a jovem, de se desenvolver psicologicamente de modo saudável e normal.
Em que idade é praticada a MGF?
Assim que a menina é menstruada pela primeira vez.
Vários organismos internacionais, como a Organização Mundial de Saúde (OMS), tem enviado esforços para desencorajar a prática da MGF. A Convenção sobre os Direitos da Criança, assinada em Setembro de 1990, considera-a um acto de tortura e abuso sexual.
A MGF é um momento de mulheres para meninas. Faz-se porque sim! O grito só se amarra porque é um passo importante e nobre na vida destas meninas:
a) Aceita-se para aumentar a probabilidade da menina vir a casar, normalmente é o pai quem paga a "cirurgia", para que possa casar as suas filhas com homens, que não aceitam para suas esposas, mulheres que não sejam circuncisadas.
b) Podem gerar filhos, sem a MGF, não se gera vida.
c) Desencoraja a promiscuidade sexual, obrigando a mulher à fidelidade ao marido.
d) Evitam doenças, porque as mulheres se contêm nas relações sexuais.
e) Os orgãos genitais femininos são "impuros", têm de ser purificados com a extirpação.
f) Se não se extrair o clítoris, cresceria ali um pénis.
g) Para a mulher não "virar" lésbica.
h) Torna a mulher mais higiénica.
Acrescentam ainda que, durante o tempo de guerra, quando os homens saíam para combater, era preciso tornar as mulheres mais "frias", para que não procurassem o sexo com muita frequência.
E chegou o momento de submeter a menina à MGF, em algumas zonas a menina é embriagada, noutras não. Quatro mulheres prendem as pernas da menina a paus. A "especialista" munida de facas, pedaços de latas e vidros, inicia o seu trabalho. Existem três tipos de MGF: a mais frequente, corresponde a 80% dos casos, é a excisão parcial do clítoris e dos pequenos lábios. A outra forma de mutilar é a chamada circuncisão feminina, em que apenas se extrai o clítoris. O terceiro género é o mais impressionante, a infibulação, ou extracção completa do clítoris, juntamente com os pequenos e grandes lábios. Não existem suturas! Espinhos secos, ou qualquer outro objecto perfurante ligam as faces internas das coxas durante 40 dias! Nesta amálgama de carne viva é inserida uma cana, ou um tubo de plástico (nos meios mais desenvolvidos), para drenar a urina, outra urgência de sabor amargo...15% destas meninas morrerão de complicações "pós - cirurgia". Um longo e aflitivo processo de cicatrização é aceite de dentes cerrados e olhar voltado para dentro!
As meninas que sofreram a infibulação, sem dúvida as que mais padeceram, e onde a taxa de mortalidade é maior. No momento do parto, podem suceder complicações graves para as mães e para os bebés. Nesses momentos é imperioso que reabram a vagina à parturiente, para diminuir a pressão, por vezes fatal, do crânio e da coluna do bebé. Caso este procedimento não seja efectuado, a parturiente pode no momento da expulsão, rasgar desde a vagina até ao ânus.

São perturbadoras as atrocidades que o homem consegue infringir sofre o seu semelhante, em nome de uma tal "tradição", em pleno séc. XXI!

E faz-se, porque sim!

3 comments:

Anonymous said...

Que heresia!
Gostava de suavizar o sofrimento de cada criança com um colo, porque as minhas mãos estão cheias de nada!
Nascer inserido nestas culturas, e por um acaso ser do sexo feminino, é de facto, o maior dos infortúnios...
Até quando esta barbárie?

Cristina parabéns pelo artigo.
Beijinhos,
JMC

José Leite said...

A religião, os preconceitos hediondos, a falta de noção de liberdade, a inconsciência total, na base desta odiosa "tradição".

O ser humano consegue ser pior que os animais, nalgumas facetas do seu comportamento.

Ainda é possível, na sociedade hodierna, existirem comportamentos tão aberrantes?

Tudo isto é fruto da mesma árvore que vai fustigando gerações: o obscurantismo.

Purificar os ambientes e as mentalidades é cada vez tarefa mais urgente. O preconceito, a frigidez mental e intelectual, o puritanismo hipócrita, o celibato de padres e freiras, enfim, tudo são faces da mesma moeda...

Urge lançar mais oxigénio nesta atmosfera intelectual tão conspurcada...

Anonymous said...

Parabéns Cristina.
Excelentes trabalhos e particularmente essa praga africana da mutilação.Que sirva para tocar consciências.
Bjs. Jorge Mendes