
A todos um excelente ano novo! Já agora, preparemo-nos com os mantimentos indispensáveis: Imaginação, energia, determinação e muito amor. Reforço: Muito amor! Um amor muito intenso para não sentir o quanto este país nos vai aleijando!
"... o poema é o teu rosto, eu não sei escrever a palavra poema, eu só sei escrever o seu sentido." José Luis Peixoto in "a criança em ruínas"
Sentes agora? Sentes essa força estranha que te impede de pensar mais e mais longe, e até, mais perto de nós? Sentes essa sede? Essa vontade desgovernada? Profunda urgência - digo-te eu!
Lembrei-me agora, há muito tempo que gostava de deixar entrar aquela luz, aquele tempero constante e ameno, nas palavras que, tão delicada e teimosamente pousávamos na cama. Uma e outra, e mais outra ainda, e depois tantas. Muitas mesmo. Palavras que construímos com as nossas bocas, com as nossas mãos e até com os olhares que fomos guardando em nós! Tenho-lhes saudades! Tantas!
Fecho os olhos e sinto essa força encorpada, um desconsolo crescente que nos corta! Sinto essa força – de que falo tantas vezes – mas agora encerrada de medo, num corpo doido de tanto silêncio! Talvez seja um desengano o que sinto... o tempo que não chega lá, onde fomos tantas vezes…
És a minha voz? Perguntei. Andavam às voltas com uma conversa inconsequente, daquelas que vai a nenhures. Por isso insisti: És a minha voz? Era uma voz dorida, despida e em silencio. Era uma voz sem forma, sem imagem, mas mesmo assim, uma voz. És a minha voz? Continuei. Mas aos poucos, a voz foi-se encerrando num lugar distante, num tempo desviado de agora e de nós.
És a voz do beijo que ficou por dizer. Respondes-te por último.
Gostava de te falar deste silêncio… Deste, e de tantos outros, que abraçam e aconchegam. Gostava de te falar do silêncio que agasalha em noites mais frias! Que aquece o corpo e liberta a alma. E que, chegando, ocupa o lugar vazio!
Gostava de te falar do silêncio de aromas e memórias. Do silêncio quente e doce e, daquela musicalidade que nos embala e que me toca agora…
Gostava que este silêncio chegasse a até ti como brisa morna e ameigada. Gostava que te sussurrasse o sorriso que penduro no silêncio do meu corpo.
Gostava de te dar o meu. Este que te falo, e que, não me agarrando, te sorri!
Hoje, apetece-me parar o tempo. Parar para voltar lá, e avançar por estas linhas acima como se de caminhos se tratassem. Acelerar por estas, ou por outras palavras fora e sentir-me estrangeira. Aquela que está de fora. Aquela que fica na bordas das palavras. No rebordo das letrinhas. Aquela que te brilha...
Hoje, apetece-me viver num tempo desconhecido e escrever palavras familiares em temas com odores nobres.
Hoje, apetece-me reler-te, e sentir-te no som de outros tempos. Hoje, apetece-me escrever-te.
Sabes que mais? Hoje, apetece-me dar-te o meu lado mais precioso… Aquele que teimosamente fica sempre do lado de fora!
Quase sem pensar, ou, sem pensar de todo, estico o braço e com muito cuidado vasculho. É preciso não derrubar nada. As flores, lá de casa, estão sempre milimetricamente alinhadas - aliás como quase tudo. Com as pontas dos dedos encontro-as. Encontro-as sempre. Depois, com as chaves na mão, pouso, finalmente, o olhar naquele vaso, no vaso de sempre e deixo-o por lá. Lá dentro, guio-me apenas com o coração… Alvoraçada, preparo-me. Alinho o cabelo na expectativa de alinhar as ideias também. Procuro o ar mais familiar, as palavras mais amenas e os sons que me fizeram sorrir e sorrir, vezes sem conta! É nesse momento que me sinto a entrar, e sem dar por isso, afasto-me no tempo!
Respiro cada instante, cada recanto perdido, cada objecto e subo no tempo! Enlaço-me nos cortinados e deixo-me invadir pelo odor a lavado que me abraça! O calor da casa vai aquecendo as memorias e vivo feliz cada recordação! Depois de tanto tempo, só as memorias permanecem imutáveis, são as únicas que confirmam que regressei ao mesmo sitio. Ao mesmo tempo!
“Mas, então, como podemos fazer o caminho que vai desde a incapacidade para entender a lógica dos factos até à capacidade para nos distanciarmos e de uma forma clara perceber que atitude assumir? Repare que utilizei a palavra distanciamento. E essa é uma boa forma para entendermos este processo. Quando estamos muito próximo de um muro, é difícil ver o que está atrás dele. Mas se nos afastarmos, é como se ele se tornasse mais baixo e já conseguimos ver mais longe. Ver mais é aqui a palavra-chave. Ver mais do que aquilo que estamos a sentir. Conseguir colocar-se «numa posição» que permita olhar a nossa vida como se se tratasse da vida de outra pessoa. Criar este processo é o que os psicólogos chamam «construir consciência». A consciência é como se tivéssemos criado uma outra pessoa dentro do nosso próprio corpo e, quando temos de tomar decisões, então essa outra pessoa, que somos ainda nós, age como um conselheiro.”
Joaquim Quintino Aires, in O Amor é uma Carta Fechada
“Se se tiver sorte, morre-se sozinho com uma boa companhia!”;
“Gostava de dançar a dois, num sentido mais eterno...gostava…”;
“As pessoas são maravilhosas”;
“A senhora da limpeza foi a única a bater palmas (no ensaio da manhã) ”;
“Perde-se a competitividade… aquele iogurte fica ali séculos… (referindo-se à ausência de irmãos)”;
“A morte é um estado transitório… fica nas pequenas coisas…”;
“Chego a tolerar as pessoas de quem não gosto mesmo!”;
“É repugnante ter uma opinião sobre tudo e sobre nada.”;
“É importante ajuda-los a partir, deixar as pessoas partir é muito importante, tanto na vida como no amor! (referindo-se à morte pai);
“Quando se é feliz numa relação não se perdoa nada, não há nada a perdoar!”;
“Gosto do ruído das coisas…”;
“Chorar sim, sofrer não! Eu sofro muito!”;
“Tenho imensas saudades, estive muito ausente…”;
“Há coisas de que não me arrependo, de comportamentos autodestrutivos…”;
“Ainda tenho muitas coisas para resolver. Estou muito baralhado…”;
“Nas relações humanos não tenho sido muito hábil!”;
“Se ofendi alguém… as minhas desculpas!”;
“Tenho medo do excesso de palco, do excesso de luz, tenho de viver em mais escuridão… tenho medo!
Rui Reininho, hoje, in alta definição na SIC
“Porquê que querem prolongar a vida aos velhos e depois esquecem-nos? Não compreendo!”;
“Tenho medo de amanhã ter de obrigar alguém a tomar conta de mim!”;
”Gostava de ter juízo até ao dia da minha morte!”;
“Gosto do contacto com os jovens, gosto da capacidade que têm em serem provocadores. Gosto. Mas, alguns sãos mal criados! Alguns acham que fazem falta!";
“Tento ser observadora sem criticar.”; ”A força interior é vulcânica.”; ”Duvido das coisas fáceis.”; “O amor é magnífico.”;
“A dor faz-nos sentir mais pessoas (detesto dizer isto, mas é verdade!)!”;
“Não gosto que me olhem...”; “Gosto de ler e escrever.”; “Gosto das minhas contradições.”;
”Quando uma relação dura tantos anos passa a ser um amor sublimado. É todo e é tudo!”; “Os tempos, para os mais jovens, são muito difíceis (a propósito do amor!)!”;
“Gosto de ouvir passos... Olha já terminaram!”; “O amor é o sentimento mais difícil de interpretar!”; “Não gosto de falar mal das pessoas.”;
“Portugal não liga nenhuma à educação e à cultura...”;
“A vida é de uma voracidade tremenda!”;
“Com esta idade (a Margarida está a caminho dos 70) não se engana com tanta facilidade e não se sonha com disparates...”; “Tenho sonhos por cumprir. Escrever mais 2 ou 3 livros. Ter tempo para observar as pessoas!”;
“Gosto de figueiras porque têm uma sombra quente...”;
“É bom consumir o tempo todo até ao fim.”; “É bom entregar-me numa conversa simples...”;
“Tenho de trabalhar porque a minha reforma não chega (Margarida recebe cerca de € 370,00)!”;
“Só me zango com as pessoas de quem gosto muito.”;
“Costumo sentir as pessoas que valem a pena”.
Margarida Carpinteiro, hoje, in alta definição na SIC
As Bolas de Sabão
As bolas de sabão que esta criança Algumas mal se vêem no ar lúcido. Alberto Caeiro |
É o que mais procuro. É aquilo que mais procuro. E é o que não tenho.
Imagina.
Todos os dias e em todas as horas. Sempre. E percorro todos os rostos, todas as mãos e todos os olhares. Mas, o que volta são palavras.
Palavras. Apenas isso. L-E-T-R-I-N-H-A-S.
Depois guardo-as. Algumas ficam por aqui mesmo, outras, nas minhas vozes. São palavras tão diferentes daquelas que trago penduras. Penduradas nas mãos, uma por dedo, às vezes mais. Depende.
São palavras que ninguém chama. Que ninguém vive dentro.
Que ninguém vive por dentro.
É o que mais procuro!
Pode haver um amanhã em que o teu rosto não seja a primeira coisa que eu veja (disseste-lhe, assim, sem mais.). Depois disso, tentou, a todo o custo, chegar a um lugar onde reparassem nele. Mas é difícil!
É difícil estar sempre à espera. É difícil gerir tanta pressão acumulada na garganta, por isso as lágrimas soltavam-se de quando em vez! É difícil! (repetia amiúde!). No fim de uma vida deparamo-nos com uma história inteira que ficou para trás! E agora, sente as palavras a amontoarem-se na garganta, a expandirem-se até serem capazes de o sufocar.
É difícil (não parava de repisar!). Quando nos magoam para lá do que é possível suportar, quando a dor fica tão grande… todo o resto deixa de fazer qualquer sentido (pensava…)! Mesmo tratando-se do mesmo sangue!
Mil milhões de euros é o valor que os hospitais devem à Industria Farmacêutica.
Entretanto, algumas unidades hospitalares já solicitam aos doentes alguns bens, como por exemplo: medicamentos, fraldas, leite (substituto do leite materno) e até lençóis!
A notícia hoje vai até Lisboa, onde a Maternidade Alfredo da Costa, pede donativos aos seus pacientes, indicando o NIB da instituição, em todos os documentos que entrega.
Entretanto, as contas continuam controladíssimas... É necessário averiguar se se trata de despesismo e, por conseguinte, má gestão. Diz o Governo.
E nós acreditamos, claro está!
A ideia crescia.
Havia música no ar e algumas pessoas dançavam, outras balançavam. Havia amizade, doces e taças de champanhe. Havia afecto, risos e galhofa por toda a sala, excepto onde ela se encontrava.
E, a ideia aumentava.
Havia alegria, muita. Sonhos que enchiam o ar e projectos que viajavam de mão em mão. Havia beijos e ternura nos abraços. Mas onde ela se achava, não.
A ideia avançava dentro dela.
Vestia um elegante vestido preto e calçava um sapato alto, tal como a ocasião o pedia. Mas, estava afastada e estafada. Os pensamentos atracados longe. O olhar meigo, triste e cansado. Toda ela distante.
E a ideia já não cabia dentro dela. Sabia bem o que tinha de fazer…
Depois desta agitação, ficou a vida quieta e nós a queimar de paz!
Quando a viu, secou-lhe a garganta. Senti. Senti como lhe custava chegar aquele momento. E aquele calhava ser um momento particularmente difícil. Ela chegou e beijo-a na face. Foi um beijo rápido, tal como a visita. Tinha uns compromissos, afiançou-nos por fim. Ali ficaram. Retirei-me e dei espaço ao silêncio que entrou por fim. Foi um curto diálogo em silêncio. Estranho, não? Mas foi assim mesmo. As palavras a falarem e os corações a pensarem… E o tempo a esgotar-se. A mãe, apesar de gostar muito da sua companhia, não a quer por visita, e, por isso mesmo, envelhece muito nestes dias. Depois põe os óculos escuros só para esconder os olhos parados.
- Sabe menina, gosto muito da minha filha, sabia? Diz-me, por fim e quase em segredo.
Eu sorri devagarinho e abanei a cabeça, foi a cabeça que disse que sim, porque a voz não saiu.